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DO RACISMO FUNDIÁRIO AO RACISMO AMBIENTAL

Atualizado: 13 de jul.

QUEM VAI PAGAR ESSA CONTA?

Ao usarmos o conceito de racismo fundiário ou agrário não devemos limita-lo ao não acesso à terra e território pela população negra, mas incluí-lo como parte da dividia histórica reivindicada pela população negra no Brasil. E ainda acrescentar nesta conta todo o trabalho intelectual e prático do povo negro, que construiu a agricultura nesse país.


Atividades agrícolas realizadas com intenso manejo de territórios tão diversos, e em condições precárias de um sistema escravocrata. Seja nas lavouras ou no extrativismo vegetal ou mineral a população negra movimentou as principais economias do período colonial. Responsáveis ainda pela domesticação de espécies alimentares que alimentaram não só os colonizadores europeus, mas toda a sociedade brasileira.


Não existe história da Agricultura e Alimentação no Brasil sem o povo preto. E ainda assim, é a população a ter menos acesso à terra e estar mais exposta a fome na atualidade brasileira.


Do mesmo modo que ao denunciarmos o racismo ambiental não estamos referindo apenas como os impactos ambientais tem historicamente recaído de forma desproporcional na população negra, mas reconhecendo que o mesmo modelo colonial/capitalista que se formou a base da escravidão e racismo, explora e destrói desenfreadamente a natureza.


Portanto essa pauta se torna fundamental ao abordamos reparação histórica, incluir não só os danos ambientais sobre os territórios e corpos racializados, mas contabilizar o bônus ecológico produzido por essas populações no mundo.


Povos que se estabeleceram ancestralmente pela Biointeração (conceito cunhado por Nego Bispo), descreve a relação integrada e harmoniosa dos seres humanos com a natureza.


Diante do cenário agravante das mudanças e injustiças climáticas no Brasil e mundo, há uma herança socioambiental preta a ser reconhecida e considerada. Serviços socioambientais que levaram a conservação da biodiversidade dos biomas brasileiros, a exemplo da preservação da vegetação nativa na Amazônia quilombola.


Repulsamos uma Ecologia sem luta antirracista, reproduzida majoritamente por uma branquitude que "mata" preto todo dia, enquanto bate palma para o sol, dançando ciranda na chuva.


No Brasil o racismo fundiário e ambiental segue sendo lucrativo e legalizado pelo Estado, mas essa dívida histórica e permanente todo mundo vai pagar.


É urgente que a reparação histórica ao povo preto se dê para além da garantia de direitos básicos, trata-se de justiça socioambiental, de acesso a terra por uma reforma agrária antirracista, e a proteção dos territórios quilombolas e negros, como parte integral de uma reparação biocultural.



Por: Fran Paula - quilombola, engenheira agrônoma, pantaneira. Autora do Livro Racismo e Sistemas Agroalimentares, pesquisadora e doutoranda no Programa de Pós Graduação de Ciências Sociais em Agricultura, Desenvolvimento e Sociedades - CPDA/UFRRJ, membra da Aliança Científica Antirracista.


Cáceres, Mato Grosso

03/07/2024

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2 Comments


Obrigado minha irmã, você é referência!

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Parabéns pelo texto! Potente! Elucidativo e transformador!

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